Coronavírus: Impactos na Economia Global

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Em 2002, quando as fábricas chinesas produziam principalmente produtos de baixo custo para o mundo, como camisetas e tênis, um vírus letal, conhecido como SARS, surgiu neste país. Agora, mais de 17 anos depois, outro vírus mortal, Coronavírus, está se espalhando rapidamente pelo país mais populoso do mundo. Ocorre que agora China evoluiu para ser um grande player da economia global, fazendo com que a atual surto seja uma ameaça substancialmente pior do que a anterior.

O SARS surgiu pela primeira vez na província chinesa de Guangdong antes de se espalhar para outros países. O vírus matou cerca de 800 pessoas em todo o mundo e reduziu de 0,5 a 1 ponto percentual o crescimento da China em 2003.

O coronavírus

O atual Coronavírus, originado na cidade de Wuhan, atingiu a China em um momento em que sua economia cresceu e estabeleceu maiores conexões com o mundo, o que é mais temeroso para a economia global do que foram os efeitos do SARS em 2003.

Trata-se de uma espécie de vírus que geralmente se espalha entre diferentes espécies de animais. As origens do coronavírus são semelhantes ao MERS e ao SARS. Como os outros vírus, essa nova cepa teve origem em animais e muitos dos indivíduos infectados trabalhavam ou costumavam fazer compras no Mercado Atacadista Huanan de Frutos do Mar, no centro de Wuhan, que também vendia animais vivos e recém-abatidos.

O coronavírus de 2019 pertence ao mesmo grupo de vírus do SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e do MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), embora seja menos mortal. Então, as consequências após cerca de 3 meses irão depender da capacidade do governo chinês em contê-lo e do estímulo deste governo para compensar danos econômicos.

Segunda maior economia do mundo

Desde 2003, a China cresceu da sexta maior economia do mundo para a segunda maior, figurando hoje apenas atrás dos EUA. O país tem sido o principal impulsionador do crescimento em todo o mundo, com o Fundo Monetário Internacional estimando que apenas a China represente 39% da expansão econômica global em 2019.

Sendo a China o maior exportador do mundo atualmente, o surto do coronavírus também pode afetar a economia global através dos canais de exportação chineses.

A China é o maior exportador mundial desde 2009, subindo do quarto lugar em 2003 (OMC). Países como Japão e Vietnã têm enorme dependência da cadeia de suprimentos chinesa, já que estas economias importam materiais e peças da China para fabricar seus próprios produtos para exportação. A cadeia de suprimentos asiática, que importa cerca de 40% de seus bens intermediários da China, é a mais exposta (Bloomberg Economics, OCDE).

A China tem agora mais relevância para a economia global do que em 2003, tendo subido de 4,4% do PIB global para uma participação de 15,4% em 2019, sendo que sua integração nas cadeias de suprimentos globais é significativa, principalmente em tecnologia.

A China também se tornou uma parte importante das cadeias de valor globais, que se interrompidas podem ter implicações importantes para empresas internacionais.

Juntos, esses ingredientes não são um bom presságio para a economia mundial. Se o surto de coronavírus persistir, os efeitos serão sentidos no crescimento global, no comércio e nas cadeias globais de valor, bem como em setores específicos, como em produção, tecnologia, transporte e turismo.

Impacto do coronavírus na economia mundial

Comparado ao surto de SARS de 2002, os efeitos econômicos globais do coronavírus provavelmente serão mais graves, dentre outros motivos, por que a China está muito maior e mais entrelaçada com a economia global, o que a faz mais vulnerável do que era há 17 anos. Para se ter uma noção, o tráfego aéreo internacional da China era de apenas 5 milhões em 2000, enquanto hoje são quase 55 milhões.

Para Gerhard Wolf, chefe de comércio exterior da Associação de Atacado, Comércio Exterior e Serviços (BGA) “atualmente, não vemos sinais de que as cadeias de suprimentos sejam completamente interrompidas, mesmo que haja percalços”. Para ele, não há necessidade de entrar em pânico. Porém, alguns analistas afirmam que o impacto pode ser mais grave que o surto de SARS de 2003.

Quando vírus SARS atingiu a China há 17 anos, o comércio interno sofreu significativamente e as bolsas de valores ao redor do mundo caíram. Mas a economia global está agora muito mais interconectada e a economia chinesa muito mais relevante. Na época, a participação da China na economia mundial era de apenas 5%, enquanto hoje é superior a 16%.

O especialista em economia do Instituto IFO, Timo Wollmershäuser, acredita que “as consequências econômicas serão maiores que a surto de SARS de 2002”. A crise do SARS, que durou seis meses, custou à China um crescimento de 1% no PIB. Número pequeno, mas desde então a importância econômica do país aumentou muito, e a taxa de infecção do Coronavírus é maior, embora o governo chinês esteja, nesta situação, reagindo mais rápido e com mais força.

E não apenas os mercados de ações estão sendo atingidos pelo problema do Coronavírus. O consumo chinês também despencou como resultado do surto e muitas empresas sofreram impacto, desde o turismo até o fornecimento de peças para a indústria automotiva e de tecnologia.

Dentre as empresas que já declararam oficialmente terem sentido graves consequências, as principais são Uniqlo, Lufthansa, Swiss e Austrian Airlines, Airbus, GSK, Apple, Nike, Disney, Ikea, Starbucks, Carlsberg, Burberry, Aston Martin e Jaguar Land Rover, Royal Caribbean, Inter Continental Hotels, Honda Motor, Groupe PSA, Hennes e Mauritz AB, Remy Cointreau, McDonald”s, Walt Disney, Delta Air Lines, Wynn Resorts, Avnet, Keppel, United Airlines, dentre outras.

Impacto do coronavírus na cadeia de suprimentos mundial

A China é significativa como fornecedora para o resto do mundo. O surto de Coronavírus está se espalhando pelas cadeias globais de suprimentos, afetando especialmente a indústria automobilística. A Hyundai afirmou que precisa fechar todas as fábricas de automóveis na Coréia do Sul porque está ficando sem componentes fabricados na China. VW e BMW anunciaram o fechamento temporário de suas fábricas na China. Além disso, longas paralisações podem interromper as cadeias de fornecimento nas indústrias química, automotiva, têxtil e eletrônica. Das duas, uma: ou a produção das empresas será interrompida, ou novos fornecedores precisarão ser encontrados.

Tudo isso pode causar estragos nas empresas que dependem da China para componentes, desde fábricas de automóveis no Centro-Oeste americano e México até fábricas de roupas em Bangladesh e Turquia, sendo um impacto potencialmente grave nas cadeias de suprimento globais.

Os efeitos do vírus nas cadeias de suprimentos, que se tornaram notoriamente complexas nos últimos anos, são difíceis de prever. Uma única parte de um produto de alta tecnologia como uma smart TV, pode ser composta por dezenas de componentes menores, sendo que cada um deles é montado a partir de outras peças. Em uma cadeia tão complexa, é comum que as próprias empresas não conheçam seus fornecedores de 3º e 4º escalão.

Centenas de grandes fabricantes tiveram seus elos de suprimentos globais cortados. A Robert Bosch GmbH, maior fabricante de autopeças do mundo, teve que fechar duas fábricas (800 funcionários) em Wuhan. Outros fabricantes de autopeças, como Honda e Nissan, também fecharam suas instalações nesta cidade.

Conclusões

O “efeito dominó” segue em frente. As principais províncias exportadoras costeiras estão em uma pausa prolongada, e as empresas de todo o país estão adotando medidas e precauções para conter a propagação do vírus. Não apenas a China desacelerará, mas também os países que dependem da China para insumos intermediários, e haverá impactos na demanda global.

Para investidores estrangeiros, o primeiro trimestre de 2020 requer reorganização de suas práticas de negócios na China, com ampliação do sistema de home office, minimização de viagens e economia de suprimentos. Os planos de negócios precisam ser reajustados para baixo, à medida que as vendas diminuam e os custos aumentem, podendo, muito provavelmente se estender pelo 2º trimestre de 2020.

Em suma, com o crescimento econômico global já em fase de desaceleração, o vírus é outro componente para uma recessão global em 2020, o que trará mais trabalho para os bancos centrais dos mercados desenvolvidos, que precisarão estimular as economias.

Conteúdo em parceria com o Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP.

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Por Adm. Fábio dos Santos 

CRA-SP nº 134081

 Professor universitário na área de Logística de Exportação e Supply Chain.

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